domingo, 30 de novembro de 2014

Lilás.

E agora o céu está lilás. O sol está nascendo, são ainda cinco e pouca da matina, bem, no meu caso já são cinco e pouca. Eu não durmo mais antes que ele nasça. E não me arrependo, nem mesmo reclamo ou resmungo por estar ainda acordada. Esse é o único momento do dia que eu realmente admiro o sol, quando ele nasce, na chegada da aurora, quando o céu de um breu azul, se torna lilás e se mancha de laranja avermelhado. É uma mudança linda, juro. Vale a pena estar acordada, é de uma leveza incomensurável, posso até dizer que me faz dormir melhor, é muito mais agradável dormir após ver tal fenômeno do nosso universo. Agora ele esta azulando, azulando naquele tom de bebê, chega assim a fazer sentido em minha mente o tal nome desse tom de azul, já que também é o tom do céu ao nascer do dia. E os pássaros! Ah, que lindo é ouvi-los cantando felizes, em várias músicas e melodias. Os vejo pousados pelas árvores da rua, cantando como se nada ao redor os ameaçasse, como se o mundo fosse belo e seguro, cantando a sensação que se dá no nascer do céu lilás. As folhas das árvores ainda úmidas de orvalho e esperando que o azul fique mais vívido e o sol mais amarelo, para que as sequem e dêem energia, para que assim elas por sua vez nos dêem energia para o início de um dia. Isso é bonito, não? Tudo faz tanto sentido, tudo faz tanto sentido e nós teimamos em nos prender em coisas tão vagas e insignificantes, corremos os dias como se fossem maratonas e esquecemos de observar como é lindo o tal lilás. A propósito, acho que seria de bom tom um dia todo lilás, cheio de frescor, cheio desse ar que parece se renovar todos os dias, pois a esta hora ele está tão agradável de se respirar. Merecíamos sim um dia lilás, um dia de ar puro, um dia de pássaros cantando felizes, um dia de árvores com orvalho, um dia quase azul bebê, um dia para refletir sobre o céu, sobre o sol, um dia em que não raciocinássemos como se vivêssemos em uma redoma azul com uma forte luz incandescente. Torço e sonho por um dia em que a imensidão seja vista como eu vejo antes de dormir, linda, pura, e claro, lilás.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Veronica. Três.

- Acho que merecemos uma conversa saudável para resolver essa confusão toda, né? - disse Ana com aquela carinha que parte o coração.
- Sim, temos muito o que conversar, as coisas precisam entrar no eixo. Mas antes disso, deixa eu te levar pra dentro e me da um beijo antes que eu morra de saudade aqui no meio da rua? - falou Veronica
-Okay, mas só um beijo, dona Veronica, nada de me enrolar, me levar pro chuveiro, pro quarto, até eu ter que ir embora sem nada ser resolvido, você sabe muito bem que...
- Ei, não começa a reclamar de mim ainda não, vamos entrar e me da o meu beijo antes que eu te agarre no meio da rua - cortou Veronica com um sorrisinho no canto da boca.
As duas entraram de mãos dadas pelo prédio simples e pouco habitado em que Veronica morava. Ana entrou, brincou com Batata - cachorro que as duas resgataram da rua ainda bem filhote - que pulava em suas pernas como se não a visse ha anos, e se jogou no sofá.
- Agora eu quero o meu beijo - disse Veronica enquanto deitava por cima de Ana no sofá e beijava o seu pescoço.
- Odeio você - disse Ana não resistindo e beijando Veronica enquanto o clima esquentava como era de costume entre as duas.
- Só sei de uma coisa, melhor do que isso aqui no foi... - sussurrou Vê enquanto levantava e passava a mão pelo corpo naturalmente sensual de Ana.
- O que você disse ai? O que não foi melhor que isso?
- Você sabe que eu não sei mentir pra você. Bem, precisamos conversar mesmo.
Ana se levantou, pegou um cigarro do maço amassado de Veronica, acendeu e sentou novamente ja soltando um - Pode começar. O que aconteceu?
Veronica também pegou um cigarro, e por segurança resolveu sentar na poltrona de frente pra Ana, e não mais ao seu lado.
- Na verdade eu não sei o que aconteceu.
- Como assim "NÃO SABE"?
- É, não sei. Eu não conseguia dormir, nem me distrair com nada, minha cabeça estava voando, eu achei que você nem me procuraria mais... Enfim, fui pro bar e não faço ideia do que aconteceu.
- Você só pode estar brincando comigo. Você me da nojo, Veronica. Realmente, eu não deveria ter te procurado. Depois eu que sou louca por sentir ciume. VAI A MERDA!
- Amor, por favor, me escuta, não faz assim não.
- NÃO vem atrás de mim. - berrou Ana ja batendo a porta do apartamento e deixando Batata chorando por não ter recebido nem um carinho de despedida.
Veronica demora a raciocinar, ja que a ressaca tava pesada, mas levanta em um pulo e abre a porta do apartamento pra correr atrás de Ana que estava encostada no corredor com os olhos cheios de lágrima.
- Ai... Que bom que você ainda esta ai. Entra aqui, por favor - diz Veronica com a voz ja embargada - Vamos conversar, depois, se quiser ir embora, não irei mais atrás de você.
Ana entra pelo apartamento sem tocar em Veronica, vai direto até o " bar" e da um gole no gargalo do Buchanan's empoeirado enquanto engole o choro.
- Meu amor, você sabe que o nosso relacionamento esta entre trancos e barrancos, a gente tem brigado por tudo, a tua insegurança ta aumentando, e você sabe que eu perco o controle das coisas muito fácil...
- Veronica, você sabe o que são quatro anos? Você faz ideia do tempo que estamos juntas? Como você consegue ser tao inconsequente e ainda tirar a razão da minha insegurança? Porra! No mínimo você trepou com alguem aqui, na nossa cama, e por você, voltava pra ela e me comia agora. Você é uma piranha!
- Olha só, pega leve ai, não tem necessidade de baixar o nível. Eu realmente não sei o que aconteceu, eu bebi demais, e pra variar esqueci de tudo, deu apagão na minha mente. E se você realmente achasse que eu sou uma piranha, não estaria comigo ha esses 4 anos, ou você é masoquista?
- Provavelmente eu sou mesmo, porque eu sou uma babaca em te amar tanto ao ponto de estar aqui agora. Olha só, me deixa ir embora, ta? Caso você lembre o que aconteceu e resolva ser sincera comigo como não é faz tempo, você me procura.
Veronica chorando se aproxima pra tentar dar um beijo em Ana, que entrega o whisky na mão dela, se esquiva, e vai embora.

(Continua)